Você já deve ter visto no nosso outro post que existem dois mundos na área empresarial: gerencial e contábil. Conforme já foi dito, os dois são fundamentais para as empresas, no entanto, boa parte delas só possui informações contábeis que não auxiliam na tomada de decisão. Neste post vamos mostrar para você algumas diferenças conceituais entre estes dois mundos e seus impactos no resultado final.
VALORIZAÇÃO DE ESTOQUES
Contábil: se tenho 10 itens prontos para venda em estoque a R$10 cada e neste período minha empresa tiver um custo de produção de R$1000 por item e tiver produzido mais 10 itens, terei então 20 itens de R$ 505 cada. Caso eu venda 5 itens por R$600 cada, contabilmente terei um lucro de R$95 por unidade. Isso me levaria a crer que estou fazendo um bom negócio.
Gerencialmente, o custo de venda do produto deve ser o custo de produção naquele período, ou seja R$1000. Sendo assim terei um prejuízo de R$400 por unidade se eu vender por R$600, o que me leva a repensar o preço ou a estrutura utilizada para a produção do produto (visto que se ele custou R$1000 nesse período, tudo me leva a crer que não voltará ao patamar de R$10).
FORMA DE PRECIFICAR MPs
Como consequência da valorização de estoques, os custos variáveis de um produto para fins de precificação, utilizando os dados da tradicional contabilidade, me levariam a utilizar o custo médio do meu estoque para a formação do preço. No entanto, gerencialmente, deve-se considerar o custo de reposição do estoque, ou seja, o da próxima compra a ser realizada. Desta forma, o preço estará sempre em linha com o mercado (importante ter cuidado em períodos de grande oscilação nos preços, pois pode impactar no fluxo de caixa). Alternativamente, pode-se utilizar o da última compra, mas nunca o médio do estoque.
ALOCAÇÃO DE TODOS OS CUSTOS AOS PRODUTOS
Na contabilidade, uma boa parcela dos custos é classificada como despesa (na linguagem gerencial de custos, custos indiretos). Contabilmente, estes não são alocados aos produtos. Apesar disso, boa parte deles pode ser vinculada com a operação/fabricação dos produtos. Por vezes, produzir um novo produto pode aumentar muito meu custo em áreas indiretas, e a contabilidade não enxerga isso e, portanto, não gerencia isso. Nos sistemas de custeio gerenciais, todos os custos da empresa são alocados aos produtos.
CUSTO DO PRODUTO VENDIDO
O custo do produto vendido num sistema gerencial de custos é constituído de dois principais componentes: custos fixos e variáveis. Todos os custos fixos do período são alocados para os itens produzidos no mesmo. Já os variáveis, serão alocados conforme a utilização dos recursos, independente de compras de matéria-prima e de quantidades em estoque. Por exemplo, se foram comprados 1000kg de matéria-prima, mas foram utilizados apenas 300kg para a produção desse período, o custo alocado aos itens produzidos será referente a esses 300kg.
FLUXO DE CAIXA
Outro ponto fundamental para a saúde econômico-financeira de uma empresa é a gestão do fluxo de caixa e capital de giro. Não adianta gerir a empresa apenas pelo caixa ou apenas pelos sistemas gerenciais. Uma efetiva gestão econômico-financeira incorpora estas duas visões. Ou seja, não adianta estar vendendo os produtos com boa margem, baixos custos de produção se meu ciclo financeiro é muito longo e não tenho dinheiro para pagar a conta de luz.
Por fim, salientamos uma vez mais que as duas leituras são fundamentais para as empresas. Apesar disso, os resultados obtidos nas duas leituras serão diferentes. A contabilidade carrega o passado para analisar o presente, já o gerencial não nega o passado, mas analisa o presente pelas ações do presente (produção, vendas, gastos, etc.).
Rafael Fontoura Andriotti
